segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Dois Egos: maduro e imaturo

Compare o corpo a um veículo. De acordo com os textos dos Vedas, ele tem dez instrumentos externos e quatro instrumentos internos. Os instrumentos internos são a mente, o intelecto, o ego e a memória, dos quais o que mais apareçe é o ego.

As escrituras yogues dizem que o ego é aham karta iti bhavah, que significa a atitude de “Eu sou o doador”. O eu individual é associado com atividade.

O que é a individualidade? É o conceito de exclusão dos “outros”. Dizendo “eu sou um ser humano” exclui você dos insetos, animais, minerais etc. Há exclusões baseadas em gênero, nacionalidade, religião e outros múltiplos conceitos. Todos eles enfatizam o ego.

Como poderemos nos referir a tal instrumento chamado ego? Por si só, ele não é nem bom nem mau, depende de como ele é usado. Uma faca na mão de um criminoso é má, mas uma faca não mão de um cirurgião é um instrumento de cura.



De forma similar existem dois tipos de ego: maduro e imaturo. Seres realizados são livres do ego. Também se pode dizer que eles têm ego maduro, sem apego, livre, apenas envolvido no jogo, que traz calma, paz e sabedoria para agir em harmonia com os outros.

Um ego não desperto é um ego imaturo e por isso se magoa. O nosso mestre diz que quando a manga é pequena ela permanece grudada na árvore. Quando ela é pequena e verde não tem sabor bom, e até os pássaros que a bicam jogam-na fora. A mesma manga quando amadurece, muda de cor e aos poucos se solta da árvore. Quando o ego é imaturo, não desenvolvido, é associado com orgulho, vaidade, cólera, ciúmes, hipocrisia, frustração - todos os vícios vêm com o ego imaturo.

Ego imaturo traz escravidão, sofrimento, lamentação, doença, emoções e perturbações.



Como tornar o ego maduro? Vamos nos referir de novo ao jeito que a manga amadurece. A manga agarrada à árvore falará ao vento “Vou tentar me agarrar à árvore para não cair até que possa amadurecer”. Uma vez que a manga amadureceu não pode ficar agarrada na árvore e mesmo não havendo vento ela cairá. A mensagem é: Eu serei agarrado à fonte, a fonte da minha vida, a fonte da minha existência até ficar maduro.

Se alguém sabe duas coisas – “quem sou eu” e quem são os outros”– o ego amadurecerá. Ego maduro é reconhecido como “não ego” o Eu real – este estado é possível somente em meditação profunda, em samadhi, ou em sono profundo.

Estarei eu existindo se perder a minha individualidade? Esta é a pergunta que fazemos porque a vida e a morte geralmente são associadas, em nosso cérebro, com a individualidade. Na realidade a existência não está baseada na individualidade, mas depende da respiração. Se não tem respiração, não tem existência.



A respiração é a conexão que nos ajuda a descobrir não somente “eu sou” “isto”, mas também “todos são isto”. Quando há dois há dualidade e envolvimento com ego. Quando há UM, não há dualidade e não há ego.

O amor é possível quando há dois, a briga é possível quando há dois, mas quando há somente um, não há nem amor nem briga nem ego. Quando se realiza esta verdade em experiência íntima sabe-se que o um está em todos e todos estão no um.



Vamos ver então, qual é a força reativa em nossas vidas?

Por causa da existência da alma no corpo, os olhos vêem, os ouvidos ouvem, o nariz cheira, a língua fala, o estômago digere o alimento e as mãos se movem – Tudo é feito pela ação da alma. Podem os órgãos realizar alguma tarefa sem a respiração? Poderá a mente pensar? O intelecto analisar? Mas o ego se vangloria dos seus atos.

O crédito não vai para o instrumento, mas para a respiração da pessoa que o está usando. Os instrumentos são úteis para realizar a meta desejada. Quem é o verdadeiro ator? Kri e ya – Kri significa atividade e ya significa divindade. O reconhecimento e o despertar da verdadeira identidade do Divino doador amadurecem o ego.



Muitas pessoas se envaidecem sobre as suas habilidades e talentos. Mas cada geração é beneficiada da sabedoria e da habilidade dos seus predecessores. Ninguém está sozinho. O devoto a Deus sempre dá os seus créditos a Deus, Oh! Deus por sua causa, Oh! gurus por sua causa, eu sou quem sou, tudo pertence a vocês, nada me pertence, este corpo, o tempo, o respiro, a sabedoria, tudo é a Tua dádiva, como posso ter ego, ira e ciúmes? Quando se vive com atitude de prece permanente, devoção e auto-análise, o ego devagar amadurece e quando ele é maduro ele se torna realizado.

Vamos tentar observar o nosso ego amadurecer.

Tem uma canção Bengali que diz:

Oh! Mãe divina, tudo é a Tua dádiva, tudo é o Teu desejo, mas sem o ego eu diria: tudo é meu.

Oh! divina Mãe, dá-me a sabedoria de entender que Tu és a doadora. Faça a minha vida livre do ego. Quero experimentar esta liberdade.

A conscientização da identidade do Divino doador!

O verdadeiro despertar do Divino doador!

Por Paramahamsa Prajñanananda

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